Rejane Tamoto

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O que fazer com o dinheiro que ficou na poupança?

Se você faz parte do grupo que guardou o dinheiro na poupança – um aviso importante: não precisa ter vergonha. O que mais se lê e escuta por aí é que o dinheiro guardado dessa maneira está fora de moda ou perdendo muito valor, mas muito valor mesmo.

Não que essas afirmações estejam completamente erradas, mas acredito que nem todo mundo é igual e cada caso é um caso. Dependendo da situação, você fez um bom negócio e agora é a hora de dar o próximo passo.

Antes, quero parabenizar você por simplesmente ter guardado dinheiro. Principalmente se esse valor é a sua primeira reserva de emergência, que protege você e sua família em caso de perda de renda, ou se foi a primeira vez que conseguiu guardar dinheiro na vida. Se já poupa, também há um prazer em fazer essa aplicação. Está pronto para mudar de fase.

Outro motivo comum para deixar na poupança é a falta de conhecimento sobre investimentos, o que dá medo de fazer uma escolha ruim. Afinal, não é fácil ter dinheiro sobrando e a ideia de perder é péssima. Se identificou? Também te entendo.

Há quem considere mais fácil deixar o dinheiro na poupança. Afinal, não tem cobrança de Imposto de Renda e pode ser usado a qualquer momento mesmo. É cômodo.

Enfim, são muitas as razões que explicam porque os brasileiros deixaram mais de R$ 1 trilhão na poupança em 2020. A captação líquida, ou seja, a diferença positiva entre aplicações e resgates, foi de R$ 166,3 bilhões. Outro motivo é a tradição, pois a caderneta de poupança é a aplicação mais antiga – completou 160 anos no dia 12 de janeiro. É a senhorinha querida de todos.

Lá no passado foi usada até por escravos, que puderam usar a caderneta para guardar dinheiro e comprar a alforria, a tão sonhada liberdade.

Tem risco, sabia?

Acredito que a principal razão para guardar o dinheiro na poupança tenha origem na sensação de segurança. Enfim, em tempos tão malucos em que até o superconservador título do Tesouro Selic teve retorno negativo em 2020, a ideia de ganhar pouco e nunca ver oscilação proporciona conforto. E bota conforto nisso. Mas quero contar uma coisa: a poupança tem risco.

O maior risco é ver seu dinheiro perder da inflação. Ou seja, os mesmos bens que o seu dinheiro compra hoje não poderão ser comprados amanhã porque os preços subiram mais do que o seu rendimento. Em 2020, a alta nos preços foi de 4,52% e a rentabilidade da caderneta de poupança atual é de 70% do que for a Selic. Ou seja, 1,40% ao ano se a taxa de juros estiver em 2%. Se subir para 3,25% este ano, como projeta o mercado financeiro, deve passar a render 2,28%.

Importante lembrar que o risco de crédito, que é aquele do banco quebrar, também está protegido no caso da poupança, mas só para depósitos de até R$ 250 mil por CPF pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Conheça a poupança que ganhou da inflação em 2020

Sabe quem ganhou da inflação em 2020 com o dinheiro na caderneta de poupança?

Quem tinha depositado nela até o dia 3 de maio de 2012 e não mexeu mais. A regra para os recursos guardados até esta data é outra: rendimento de 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial). Então se o que você tem na poupança é dessa época, você realmente fez um ótimo negócio ao deixar tudo do jeito que está no ano passado.

 O que deixar na poupança? E o que tirar?

O que estiver na poupança antiga. Fora isso, se virou um hábito colocar um percentual dos seus ganhos na poupança todo mês, não há problema. Se virou uma espécie de cofrinho, faça revisões regulares, para não deixar esse cofrinho perder valor.

No planejamento financeiro, separamos o que é reserva de emergência e você pode ir para aplicações que pagam um pouquinho mais do que a caderneta, dos recursos que servirão para realizar os objetivos de médio e longo prazo.

Já pensou guardar dinheiro para viajar depois da pandemia e descobrir que o rendimento dele não acompanhou a alta no preço de passagens e hotéis? O que dizer então do que é guardado para a aposentadoria?

Sabendo quanto destinar e o prazo de cada objetivo que você tem, com certeza descobrirá opções melhores e mais diversificadas do que a nossa senhora caderneta. É uma oportunidade para aprender e melhorar sua educação financeira. E nesta parte entra o meu trabalho, o planejamento financeiro para atingir os objetivos em todas as fases da vida. Esse é o novo nome da liberdade financeira.

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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Quem precisa de uma reserva de emergência?

Você, eu e todo mundo que quer proteger o patrimônio e os planos de imprevistos

No começo do ano é comum ouvir a frase “não posso gastar porque tive muitos imprevistos”, além do clássico “estou sem dinheiro”. Frases que se repetem sempre no começo do ano e frequentemente usadas para adiar o início de um plano financeiro.

Também são justificativas usadas por quem não tem uma reserva de emergência, também chamada de colchão financeiro.

Essa reserva deve ser o equivalente a seis meses de despesas mensais, mas isso também depende do fluxo de receita de cada pessoa.

Quem tem uma renda que é variável, como um prestador de serviço autônomo, deve ter uma reserva mais robusta, inclusive para cobrir os gastos fixos durante as épocas de fraco movimento das vendas.

A reserva deve estar em aplicação de fácil acesso e com rentabilidade conservadora. Afinal, ela é destinada a emergências.

Com reserva, dá para investir com tranquilidade

Sempre que converso com alguém sobre planejamento financeiro e investimentos, questiono bastante a respeito dessa reserva. Ela faz toda a diferença quando se trata da realização de objetivos financeiros, pois protege o patrimônio e até mesmo a realização de planos. Por isso, a resposta ao título desse artigo é: todo mundo deve ter.

Agora que a renda fixa caminha para ter uma rentabilidade menor muitas pessoas ficam propensas a querer investir essa reserva em aplicações de maior risco.

O problema de uma decisão como essa é justamente precisar do dinheiro para uma emergência no dia que esta aplicação estiver em baixa e fizer o resgate. Sempre recomendo que, ao diversificar, mantenha a reserva protegida.

Quando usar uma reserva de emergência?

A reserva de emergência ou colchão de segurança deve ser acessada para dar suporte a uma perda de emprego ou receita, para comprar uma geladeira para substituir a que quebrou, um celular porque o outro foi roubado ou mesmo despesas imprevistas de última hora que são necessárias para realizar um plano sem perder dinheiro.

Sobre esse último exemplo, eu tenho uma história a compartilhar. Em 2017, quando já estava prestes a mudar de carreira, eu e meu marido programamos nossas férias em Nova York.

Conseguimos uma ótima condição na passagem aérea, o mesmo ocorreu na escolha do hotel. Estava tudo certo para irmos na segunda metade do meu período de 30 dias de férias – já que eu ainda era CLT. 

Eis que, no meu primeiro dia de férias, piso em falso em um degrau e lesiono o ligamento do pé esquerdo. No pronto-socorro, o ortopedista informa que devo ficar imobilizada por um mês. Se viajasse, teria que ficar sentada. A primeira reação foi pensar em cancelar tudo – afinal, como eu iria para uma cidade tão efervescente para passear se teria que  ficar sentada?

Pensei de novo, calculei e percebi que realmente não valia a pena cancelar. Além de perder dinheiro com o que eu já havia pago, havia o principal prejuízo – o emocional – que era passar um mês inteiro lamentando o machucado presa em casa.

Recorri então à reserva de emergência e aluguei uma scooter (muito comum nos Estados Unidos para quem tem mobilidade reduzida) para circular pela cidade. Mas antes li muito sobre o quão acessível é a cidade de Nova York. E de fato é.

Fiz praticamente 90% do que planejei na cidade usando a scooter e as muletas. Havia rampas por todos os lados e motoristas de ônibus e de app de transporte que sempre me estendiam uma rampa. Aumentei um pouco o orçamento da viagem, mas ganhei upgrade gratuito no quarto de hotel – para um acessível e mais amplo. E o maior ganho foi realizar o meu plano.

Inimiga da reserva é a confiança excessiva

Então, quando falo com clientes sobre a importância de ter colchão financeiro, alguns esboçam um olhar abstrato. Outros entram em negação. Afinal, quem pode imaginar que vai machucar gravemente o pé no primeiro dia de férias? Ninguém. Eu pelo menos nunca pensei que minha reserva fosse ser usada para isso.

A dificuldade de compor e recompor essa reserva está relacionada ao viés comportamental da confiança excessiva. É aquela frase de bolso que fica na cabeça dizendo: “comigo isso não vai acontecer”. E assim, achando que tudo sempre vai dar certo, a pessoa se arrisca bastante.

Como escapar dessa confiança excessiva, que pode trazer um prejuízo financeiro futuro? Conversando com alguém de sua confiança. Um planejador financeiro pode ajudar a mensurar os riscos e calcular qual o tamanho certo dessa reserva. E então? Está pronto para superar os imprevistos?

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