Se você faz parte do grupo que guardou o dinheiro na poupança – um aviso importante: não precisa ter vergonha. O que mais se lê e escuta por aí é que o dinheiro guardado dessa maneira está fora de moda ou perdendo muito valor, mas muito valor mesmo.
Não que essas afirmações estejam completamente erradas, mas acredito que nem todo mundo é igual e cada caso é um caso. Dependendo da situação, você fez um bom negócio e agora é a hora de dar o próximo passo.
Antes, quero parabenizar você por simplesmente ter guardado dinheiro. Principalmente se esse valor é a sua primeira reserva de emergência, que protege você e sua família em caso de perda de renda, ou se foi a primeira vez que conseguiu guardar dinheiro na vida. Se já poupa, também há um prazer em fazer essa aplicação. Está pronto para mudar de fase.
Outro motivo comum para deixar na poupança é a falta de conhecimento sobre investimentos, o que dá medo de fazer uma escolha ruim. Afinal, não é fácil ter dinheiro sobrando e a ideia de perder é péssima. Se identificou? Também te entendo.
Há quem considere mais fácil deixar o dinheiro na poupança. Afinal, não tem cobrança de Imposto de Renda e pode ser usado a qualquer momento mesmo. É cômodo.
Enfim, são muitas as razões que explicam porque os brasileiros deixaram mais de R$ 1 trilhão na poupança em 2020. A captação líquida, ou seja, a diferença positiva entre aplicações e resgates, foi de R$ 166,3 bilhões. Outro motivo é a tradição, pois a caderneta de poupança é a aplicação mais antiga – completou 160 anos no dia 12 de janeiro. É a senhorinha querida de todos.
Lá no passado foi usada até por escravos, que puderam usar a caderneta para guardar dinheiro e comprar a alforria, a tão sonhada liberdade.
Tem risco, sabia?
Acredito que a principal razão para guardar o dinheiro na poupança tenha origem na sensação de segurança. Enfim, em tempos tão malucos em que até o superconservador título do Tesouro Selic teve retorno negativo em 2020, a ideia de ganhar pouco e nunca ver oscilação proporciona conforto. E bota conforto nisso. Mas quero contar uma coisa: a poupança tem risco.
O maior risco é ver seu dinheiro perder da inflação. Ou seja, os mesmos bens que o seu dinheiro compra hoje não poderão ser comprados amanhã porque os preços subiram mais do que o seu rendimento. Em 2020, a alta nos preços foi de 4,52% e a rentabilidade da caderneta de poupança atual é de 70% do que for a Selic. Ou seja, 1,40% ao ano se a taxa de juros estiver em 2%. Se subir para 3,25% este ano, como projeta o mercado financeiro, deve passar a render 2,28%.
Importante lembrar que o risco de crédito, que é aquele do banco quebrar, também está protegido no caso da poupança, mas só para depósitos de até R$ 250 mil por CPF pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Conheça a poupança que ganhou da inflação em 2020
Sabe quem ganhou da inflação em 2020 com o dinheiro na caderneta de poupança?
Quem tinha depositado nela até o dia 3 de maio de 2012 e não mexeu mais. A regra para os recursos guardados até esta data é outra: rendimento de 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial). Então se o que você tem na poupança é dessa época, você realmente fez um ótimo negócio ao deixar tudo do jeito que está no ano passado.
O que deixar na poupança? E o que tirar?
O que estiver na poupança antiga. Fora isso, se virou um hábito colocar um percentual dos seus ganhos na poupança todo mês, não há problema. Se virou uma espécie de cofrinho, faça revisões regulares, para não deixar esse cofrinho perder valor.
No planejamento financeiro, separamos o que é reserva de emergência e você pode ir para aplicações que pagam um pouquinho mais do que a caderneta, dos recursos que servirão para realizar os objetivos de médio e longo prazo.
Já pensou guardar dinheiro para viajar depois da pandemia e descobrir que o rendimento dele não acompanhou a alta no preço de passagens e hotéis? O que dizer então do que é guardado para a aposentadoria?
Sabendo quanto destinar e o prazo de cada objetivo que você tem, com certeza descobrirá opções melhores e mais diversificadas do que a nossa senhora caderneta. É uma oportunidade para aprender e melhorar sua educação financeira. E nesta parte entra o meu trabalho, o planejamento financeiro para atingir os objetivos em todas as fases da vida. Esse é o novo nome da liberdade financeira.
Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.