Rejane Tamoto

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Como me planejar financeiramente pelos próximos 15 anos? O que devo levar em consideração?

Para responder essa pergunta, o leitor terá de fazer outros questionamentos a respeito do que espera para a vida nos próximos 15 anos. O planejamento financeiro deve estar conectado aos objetivos para cada ciclo da vida.

Um casal com filhos pode ter uma série de planos até que eles se formem ou alcancem a independência financeira. Quem está perto de se aposentar também consegue projetar a vida depois dessa mudança. Estará morando no mesmo imóvel? Pretende fazer outro tipo de trabalho?

Dependendo do momento de vida e de como cada um projeta o futuro, pode ser mais fácil ou desafiador responder essas perguntas. Já conversei com clientes que sabiam bem onde queriam estar em 10 anos. Mas também já encontrei quem não sabia.

Afinal, vivemos em um país no qual ainda há muita dificuldade de se pensar em prazos longos. Ainda carregamos a memória da inflação, que assolava a economia até o Plano Real e fazia o dinheiro perder valor rapidamente. A economia estabilizou-se nas últimas décadas, mas temos muito a desenvolver quando o assunto é ter uma visão de longo prazo.

Quando converso com clientes, identificamos projetos para etapas diferentes da vida: em dois, três, quatro, cinco, seis anos. Sem nunca esquecer o mais longo prazo: a construção da reserva para conquistar a independência financeira na aposentadoria.

É importante responder:

·         Quais são seus objetivos?
·         Qual o valor de cada um deles?
·         Quais os prazos para concretizá-los?

Com essas informações, é possível calcular quanto economizar por mês para alcançar os montantes necessários para cada objetivo. Diante disso, é preciso verificar sua capacidade de poupança. Se for menor do que o necessário, será preciso fazer a gestão do orçamento, levantando receitas e despesas para definir como economizará para investir. Com esses dados, poderá decidir que gastos reduzir e que receitas aumentar para que o ato de poupar seja frequente.

Ajustada a sua capacidade com a necessidade de poupar, torna-se importante determinar o retorno que você precisará ter em investimentos para que os seus recursos cresçam na medida certa dentro de cada prazo.

É importante lembrar que o planejamento financeiro de longo prazo abre a possibilidade de obter maior retorno, pois ter mais tempo nos permite assumir um pouco mais de risco. É claro que dentro dos padrões do perfil de cada um (suitability).

O investimento de longo prazo nos permite também ganhar em outra ponta, pagando menos impostos. Ter em mente os prazos para cada projeto nos próximos 15 anos ajuda a construir a diversificação necessária para realizá-los.

Planejar o longo prazo traz segurança para colocar os sonhos em prática, mas não basta elaborar uma boa política de investimentos e gestão de ativos. É preciso monitorar os impactos das de mudanças políticas econômicas estruturais para os seus investimentos, e como isso se encaixa com as expectativas que você tinha.

Em um intervalo de 15 anos, é natural fazer alguma mudança na alocação. Além disso, é importante reavaliar os objetivos, de forma a ajustá-los ao plano financeiro. O recomendável é essas revisões sejam anuais.

Por mais projetos que você planeje realizar, o principal deles deve ser garantir a independência financeira no momento que você mais precisará dela: a aposentadoria. Constituir e alimentar essa reserva é o que vai manter a sua qualidade de vida para além dos 15 anos. Ela deve ser feita paralelamente a todos os outros objetivos, durante os diferentes momentos de vida e não deverá ser desviada de sua finalidade.

Importante: uma parcela do patrimônio deve sempre estar em liquidez (aplicações de rápido resgate) para compor o colchão financeiro. É um dinheiro que pode atender a necessidades emergenciais, mas também ser usado para aproveitar alguma oportunidade que surgir ao longo do tempo.

Para proteger os seus planos e garantir que sejam concretizados, será preciso avaliar os riscos e considerar a contratação de seguros. Mensure o quanto o patrimônio e a renda podem ser impactados por tais riscos. Nesse sentido, os principais seguros de proteção pessoal e familiar são os de vida, com cobertura para morte, invalidez, incapacidade, doenças graves; o de acidentes; saúde e responsabilidade civil. Para cada pessoa pode haver uma necessidade, como a contratação de cobertura em relação à perda de renda, à quitação de crédito e financiamento (habitacional e prestamista), além da proteção de bens patrimoniais (residencial e automóvel).

Texto publicado no site Época Negócios em 04 de junho de 2019 e no site Planejar em 13 de junho de 2019.

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Há parasita em suas finanças?

Parasita, vencedor do melhor filme do Oscar 2020

Parasita é um organismo que vive em outro organismo (hospedeiro), dele retirando seu alimento e geralmente causando-lhe dano, segundo a definição do dicionário. Também é o nome do filme coreano que levou 4 estatuetas do Oscar neste ano. As relações com o dinheiro e, principalmente, entre classes sociais extremas, são a linha condutora da história, que mistura comédia, drama e terror.


Confesso que assisti a primeira metade torcendo para que ali houvesse um planejador financeiro para conduzir a família Ki-Taek. Um dos integrantes até pensa em fazer um pequeno plano financeiro para ingressar em uma universidade, mas o filme começa a revelar uma surpresa atrás da outra. E mostra que, no fundo, o buraco dos conflitos financeiros é mais embaixo. Mas a palavra parasita não saiu da minha cabeça no último mês e depois da premiação.


Quando olho para a vida financeira de indivíduos e famílias, que afirmam ter muita dificuldade para alcançar objetivos, é comum identificar os parasitas responsáveis por tais dificuldades.

Cheque especial

O mais faminto deles são os juros do cheque especial. A pessoa que usa o limite do cheque especial com frequência se alimenta dele, mas na verdade ele se alimenta em volume muito maior da pessoa que o utiliza.


É um parasita e tanto. “Ah, mas os juros baixaram por causa de uma medida do Banco Central.” É verdade, mas esses juros continuam elevados. Quem vive usando o cheque especial vive acima da capacidade e, com o tempo, passa a dever muito mais o que ganha.

Juros do rotativo

O parasita irmão do cheque especial é o rotativo – que são os juros do pagamento mínimo da fatura do cartão de crédito. Uma vez que ele se instala na sua fatura, você deve tomar medidas rápidas para desalojá-lo, sob o risco de ter uma dívida do tamanho de uma bola de neve.

Taxas e mais taxas

Existem também os parasitas pequenininhos, que aparentemente são inofensivos e que naturalmente estão no nosso sistema. É o caso das taxas que se instalam na conta bancária, na fatura do cartão de crédito e até nos seus investimentos.


São aquelas taxas elevadas e mensalidades de serviços que você às vezes nem usa e comem um pedaço dos seus ganhos todo mês. É um parasita que atrapalha a sua capacidade de poupança e a possibilidade de investir mais para realizar seus projetos.


Há remédios para combater esses parasitas, mas é recomendável obter o receituário médico do especialista em saúde financeira: o seu planejador financeiro.

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Quem precisa de uma reserva de emergência

Você, eu e todo mundo que quer proteger o patrimônio e os planos de imprevistos

Em janeiro é comum ouvir a frase “não posso gastar porque tive muitos imprevistos”, além do clássico “estou sem dinheiro”. Frases que se repetem sempre no começo do ano e frequentemente usadas para adiar o início de um plano financeiro.

Também são justificativas usadas por quem não tem uma reserva de emergência, também chamada de colchão financeiro.

Essa reserva deve ser o equivalente a seis meses de despesas mensais, mas isso também depende do fluxo de receita de cada pessoa.

Quem tem uma renda que é variável, como um prestador de serviço autônomo, deve ter uma reserva mais robusta, inclusive para cobrir os gastos fixos durante as épocas de fraco movimento das vendas.

A reserva deve estar em aplicação de fácil acesso e com rentabilidade conservadora. Afinal, ela é destinada a emergências.

Com reserva, dá para investir com tranquilidade

Sempre que converso com alguém sobre planejamento financeiro e investimentos, questiono bastante a respeito dessa reserva. Ela faz toda a diferença quando se trata da realização de objetivos financeiros, pois protege o patrimônio e até mesmo a realização de planos. Por isso, a resposta ao título desse artigo é: todo mundo deve ter.

Em tempos de rentabilidade baixa na renda fixa, alguns clientes ficam tentados a querer investir essa reserva em aplicações de maior risco.

O problema de uma decisão como essa é justamente precisar do dinheiro para uma emergência no dia que esta aplicação estiver em baixa e fizer o resgate. Sempre recomendo que, ao diversificar, mantenha a reserva protegida.

Quando usar uma reserva de emergência

A reserva de emergência ou colchão de segurança deve ser acessada para dar suporte a uma perda de emprego ou receita, para comprar uma geladeira para substituir a que quebrou, um celular porque o outro foi roubado ou mesmo despesas de última hora que são necessárias para realizar um plano sem perder dinheiro.

Sobre esse último exemplo, eu tenho uma história a compartilhar. Em 2017, quando já estava prestes a mudar de carreira, eu e meu marido programamos nossas férias em Nova York.

Conseguimos uma ótima condição na passagem aérea, o mesmo ocorreu na escolha do hotel. Estava tudo certo para irmos na segunda metade do meu período de 30 dias de férias – já que eu ainda era CLT. 

Eis que, no meu primeiro dia de férias, piso em falso em um degrau e lesiono o ligamento do pé esquerdo. No pronto-socorro, o ortopedista informa que devo ficar imobilizada por um mês. Se viajasse, teria que ficar sentada. A primeira reação foi pensar em cancelar tudo – afinal, como eu iria para uma cidade tão efervescente para circular a pé e ficar sentada?


No topo do Empire State de scooter com o maridão, curtindo a vista de NYC

Pensei de novo, calculei e percebi que realmente não valia a pena cancelar. Além de perder dinheiro com o que eu já havia pago, havia o principal prejuízo – o emocional – que era passar um mês inteiro lamentando o machucado presa em casa.

Recorri então à reserva de emergência e aluguei uma scooter (muito comum nos Estados Unidos para quem tem mobilidade reduzida) para circular pela cidade. Mas antes li muito sobre o quão acessível é a cidade de Nova York. E de fato é.

Fiz praticamente 90% do que planejei na cidade usando a scooter e as muletas. Havia rampas por todos os lados e motoristas de ônibus e de app de transporte que sempre me estendiam uma rampa. Aumentei um pouco o orçamento da viagem, mas ganhei upgrade no quarto de hotel – para um acessível e mais amplo. E o maior ganho foi realizar o meu plano.

Inimiga da reserva é a confiança excessiva

Então, quando falo com clientes sobre a importância de ter colchão financeiro, alguns esboçam um olhar abstrato. Outros entram em negação. Afinal, quem pode imaginar que vai machucar gravemente o pé no primeiro dia de férias? Ninguém. Eu pelo menos nunca pensei que minha reservinha fosse ser usada para isso.

A dificuldade de compor e recompor essa reserva está relacionada ao viés comportamental da confiança excessiva. É aquela frase de bolso que fica na cabeça dizendo: “comigo isso não vai acontecer”. E assim, achando que tudo sempre vai dar certo, a pessoa se arrisca bastante.

Como escapar dessa confiança excessiva, que pode trazer um prejuízo financeiro futuro? Conversando com alguém de sua confiança. Um planejador financeiro pode ajudar a mensurar os riscos e calcular qual o tamanho certo dessa reserva. E então? Está pronto para superar os imprevistos?

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