Rejane Tamoto

4 medidas para proteger suas finanças da inflação

Há alguns meses assistia a uma novela antiga, do fim da década de 1980, um típico “programa de pandemia”, quando observei um diálogo sobre como os preços nos supermercados estavam pela “hora da morte”. Esse é um diálogo corriqueiro em várias obras do gênero. É que a novela da inflação, vira e mexe se repete.

É claro que ela não é mais tão forte como nos 80 e passou a ter um pouco mais estabilidade nas últimas décadas, após o Plano Real. Mas em um ano ou outro ela nos relembra sobre quão é resistente, feito um dragão. Na pandemia não foi diferente. Os preços de alimentos, gasolina e, agora, da energia subiram, e por serem itens essenciais, reduzem o poder de compra das famílias.

O índice de inflação em maio foi de 0,83% – a maior taxa para este mesmo mês desde 1996. Nos últimos 12 meses, subiu 8,06%, o que corroeu não só a capacidade de consumo, mas também o poder de compra do dinheiro que está em aplicações financeiras e que renderam menos que esse percentual. Se os rendimentos não acompanharam a inflação, o recurso pode não ser suficiente para comprar o que gostaria no futuro.

Por isso, quando o assunto é a inflação no planejamento financeiro das famílias, é importante adotar uma série de medidas, que passam não só pela revisão das aplicações, mas também por controle do orçamento e por uma atenção extra ao comportamento de consumo. Selecionei quatro delas.

1- Descubra qual é a sua inflação pessoal

O índice de inflação oficial no Brasil, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registra a cada mês o aumento de preços de uma cesta de consumo de famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, em dez regiões metropolitanas, além de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília. É um índice amplo, que serve como base sobre o quanto o poder de compra pode ser afetado por altas.

Mas nem sempre reflete a realidade do orçamento de uma pessoa ou de uma família em específico, já que cada qual tem suas particularidades. Por isso, o controle financeiro dos gastos, com anotações mês a mês, permite entender o quanto a despesa pessoal foi afetada pelos aumentos nos preços. Montar um fluxo de caixa, com anotação mensal de recebimentos e despesas por categorias, permite fazer um orçamento e acompanhar onde estão os gargalos e tomar medidas específicas sobre eles.

 

2- Substituir é um clássico que dá certo

Quando há controle financeiro, é possível saber onde a inflação está atingindo o orçamento e, com isso, tomar medidas. A mais clássica que os economistas recomendam é a substituição de marcas de produtos, ou mesmo por outras categorias, para fugir de preços temporariamente elevados. É o famoso trocar arroz por macarrão ou carne por frango, dependendo da época. Quando se trata de alimentação, vale usar a criatividade e quem costuma fazer um cardápio pode ter mais facilidade para fazer trocas interessantes de alimentos, preferindo os da estação.

As substituições também valem para serviços como planos de saúde, seguros, planos de TV por assinatura, internet e celular. Olhar para a concorrência todo ano pode até fazer com que o tipo de serviço melhore a um preço menor. É claro que o consumidor deve analisar bem essa decisão, para evitar que uma eventual carência no plano de saúde traga impactos negativos. Mas quando feita de forma sistemática e organizada, a substituição é uma grande aliada do orçamento.

3- Racionalize o consumo

Se não está no ambiente, apague a luz. Quem nunca ouviu a frase da mãe, tia ou avó? Sim, o uso racional dos recursos é outro aliado para segurar o preço de tarifas. Vale para o consumo de água, gás e compras de forma geral.

Quando a inflação foi um mal constante no país, era muito comum ver famílias lotando carrinhos nos supermercados para estocar comida, pois os preços subiam numa velocidade impressionante. Hoje isso não faz tanto sentido. Por essa razão, sempre vale olhar para a despensa e comprar apenas o que vai realmente cozinhar e consumir. Até porque convivemos com as entregas de comida pronta, e já observei muitas pessoas enchendo a despensa para depois fazer vários pedidos de delivery. Costumo dizer que guardam dinheiro na despensa.

Racionalizar implica prestar atenção ao comportamento de consumo. Se preparar os alimentos dá preguiça, é melhor não fazer muitas compras no supermercado. Ou se deseja mudar esse hábito, crie estratégias fáceis para usar o que tem no armário e geladeira e reduzir os pedidos de comida pronta. É uma escolha.

O consumo torna-se racional também quando é possível evitar os comportamentos que afetam os preços, como o de manada. Isso porque o aumento de preços é causado pela procura muito alta de um determinado bem ou serviço que não estava preparado para isso. É claro que a pandemia forçou muitas famílias a reformar casas para adaptar uma moradia a um espaço de trabalho e de estudo para crianças. Os preços de materiais de construção e de mão de obra subiram bastante por esse movimento e pelo aquecimento de novas construções, que continuaram a todo vapor. Racionalizar, nesse caso, é fazer as mudanças necessárias e deixar o que for possível para depois que essa onda passar. Porque ela passa.

4- Invista olhando para o indicador certo

A maior parte desse artigo foi sobre como proteger o seu dinheiro hoje, mas não podemos permitir que a inflação reduza o poder de compra dele no futuro.

Para isso, é necessário buscar um rendimento na carteira de investimentos acima da inflação, sem um risco tão elevado, que não possa ser suportado na carteira de investimentos. Em outras palavras, que esteja dentro do perfil de risco.

A melhor forma de investir é determinando objetivos e prazos para os recursos e manter uma reserva em baixo risco para cobrir imprevistos, porque eles acontecem. É muito importante também investir para ter liberdade financeira na aposentadoria. E se o valor investido para os projetos no médio prazo e no longo prazo não estiver acompanhando a inflação e, de preferência, entregando um retorno superior, é possível que não consiga lá na frente comprar as mesmas coisas que consegue hoje ou ter a renda necessária para o futuro.

É comum observar sempre o rendimento comparado ao CDI, que é a taxa de referência para os investimentos, e que está negativa se comparada à inflação. Por isso, o ideal é olhar para o indicador certo, buscar gestão profissional de investimentos para fazer correções e proteger os projetos do futuro que, neste momento, já podem estar na mira da inflação.

 

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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