Sobram informações sobre finanças pessoais e investimentos nas redes e cada vez mais será assim. Isso é bom porque mostra que o brasileiro quer ser o protagonista da própria vida financeira.
O engraçado é que, quanto mais informação circula, mais vejo gente perdida sobre o que fazer com aquele recurso que está parado na caderneta de poupança ou mesmo na conta corrente.
Razões não faltam, já que sobre um mesmo produto financeiro há chances de encontrar informações bem diferentes. Eu, que escrevia matérias sobre o assunto, sempre comparei essas nuances nas minhas pesquisas.
Na tentativa de simplificar tudo, alguns conteúdos rápidos deixam na cabeça das pessoas o que chamo de meias verdades. Uma comum é essa:
“Fundo de previdência privada é sempre cilada”
Espero que esse texto traga mais esclarecimentos do que dúvidas e ajude você a tomar decisões boas para o seu caso.
Como eu sempre digo: em finanças, para cada caso há uma recomendação.
Já li muito por aí que colocar dinheiro em fundo de previdência privada é cilada. Porque isso é uma meia verdade? Porque depende de uma série de fatores. Vamos a cada um deles.
Pode ser uma verdade completa se o fundo tiver uma gestão de ruim para péssima (como costumo ver em alguns bancos!) e um custo alto. Ou seja, uma péssima combinação.
Em muitos casos, quem tem um fundo de previdência assim fez a aplicação por recomendação do gerente do banco, que provavelmente estava precisando cumprir uma meta. Então, a má fama do fundo de previdência privada pode ser creditada ao vendedor e não ao produto.
ATENÇÃO AO OBJETIVO
A aplicação em um fundo de previdência privada dependerá do seu objetivo.
É verdade que é uma cilada se você recebeu uma rescisão e colocou tudo em um fundo de previdência. Também é uma cilada para quem investiu neste produto, mas não constituiu uma reserva de emergência, que é aquele recurso de fácil resgate para imprevistos ou para quem queria apenas investir para trocar de carro ou de imóvel nos próximos anos. Em ambos os casos, na hora do resgate poderá pagar uma alta alíquota de Imposto de Renda. Cilada, né?
Percebeu como o objetivo faz toda a diferença na escolha de um investimento? Lembre-se sempre: fundo de previdência não tem esse nome à toa.
Não é nem meia verdade, mas é mentira que fundo de previdência é uma cilada para quem está querendo criar uma reserva financeira para curtir e viver bem a sua longevidade.
Por que é mentira que fundos de previdência privada sempre são uma cilada?
VERDADES VERDADEIRAS
Porque fundos de previdência têm vantagens únicas. Se o objetivo é poupar para ter independência financeira na aposentadoria, só em um fundo de previdência você pode escolher pagar apenas 10% de alíquota de Imposto de Renda. É a MENOR que existe, imbatível.
Melhor do que isso, só aplicações financeiras isentas – a diferença é que elas não terão a diversificação (lembra de nunca colocar os ovos na mesma cesta?) feita por uma gestão profissional, que só pode existir dentro de um fundo de previdência privada.
Gestão é muito importante para a geração de retorno, pois proporciona uma combinação de investimentos de longo prazo com alocações táticas para aproveitar bons momentos de mercado.
Fundo de previdência privada pode ser parte de uma estratégia de sucessão. O recurso pode ter como beneficiários os seus dependentes, facilitando todo o processo comum de inventário. Em alguns estados, a parcela em fundo de previdência privada não entra em inventário, o que reduz o CUSTO da sucessão.
Em um fundo de previdência existe a possibilidade de diversificar seus investimentos de longo prazo sem pagar o come-cotas, que é aquele adiantamento de 15% do Imposto de Renda que o governo debita automaticamente dos fundos de investimentos em maio e em novembro.
GESTÃO, GESTÃO E GESTÃO
Investir não é fácil mesmo. Mas um bom investimento começa quando se sabe no que aquele dinheiro será usado no futuro. E, o mais importante, quando você precisará resgatá-lo.
Eu acredito que maiores serão as chances de acerto se os seus investimentos tiverem uma gestão profissional. Em outras palavras, em vez de comprar Tesouro IPCA, CDB, LCI, ações das empresas A, B ou C, entre outros, pode deixar que alguém faça isso por você, e isso é o que os fundos fazem.
Só que isso tem um custo. E aqui entra outra meia verdade: “a de que todo fundo é ruim porque tem taxa de administração.”
É meia verdade porque isso não vale para todos os fundos. Como eu disse no começo desse artigo, pode ser verdade completa se a gestão for medíocre. Mas é uma afirmação que não faz sentido se o fundo tem uma gestão profissional que consegue entregar proteção e retorno em bons e em maus momentos de mercado, na comparação com o que você faria sozinho. Você acha que, mesmo assim, não vale a pena pagar uma taxa de administração?
FAÇA AS CONTAS
Nessa hora, é preciso recorrer à matemática para saber se faz sentido ter todo o trabalho de diversificar e cuidar sozinho dos investimentos de longo prazo. Ou saber se o pagamento da taxa de administração faz sentido porque você está delegando o serviço de escolher suas aplicações para outra pessoa que dedica inteiramente seu tempo para isso.
Não sou gestora, e sim planejadora financeira CFP®. Meu papel é discutir sobre os objetivos e prazos dos clientes, e ajudá-los a dimensionar todos os lados da sua própria verdade. Assim, conseguem tomar uma boa decisão para si.
Meu trabalho é calcular o valor necessário para a independência financeira na longevidade e descobrir qual é o valor que pode ser investido todo mês para realizar não só esse plano de uma aposentadoria feliz em algumas décadas, mas também os de médio e curto prazos.
É um processo que passa por cálculos para encontrar a rentabilidade real, mas também pelo comportamental e pelo estilo de vida do cliente.
Dá para considerar todos esses fatores sem apoio de um planejador financeiro? Pode ser, mas não será tão fácil, já que temos a tendência de simplificar essa avaliação para tomar uma decisão que nos tire da inércia.
Está comprovado que é conversando que chegamos às melhores conclusões sobre escolhas que podemos fazer para a nossa vida.
Está cansado de ficar estacionado em cima de meias verdades? Então vamos conversar.
Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP® e Sócia da FIDUC Planejamento Financeiro.